Vesti uma calça jeans, uma camiseta, coloquei uma blusa por cima e desci de havaianas mesmo. Caminhei um pouco, fotografei e antes de subir me sentei em dos bancos que ficam no calçadão para poder simplesmente olhar o mar. Como já fazia algum tempo desde que a chuva havia cessado o movimento começou a aumentar. Surgiu uma alma aqui, um cachorro ali, pais e filhos lá e um casal apaixonado por aí.
Mas o mais interessante, e o motivo deste texto, foi o fato que se deu a seguir.
Ao longe avistei duas senhoras que caminhavam gostoso na areia, na beirinha do mar, cada uma segurando seu sapatinho, rindo e apoiadas uma na outra. Era uma cena bonita de ver. A amizade, o espirito carioca e tal...
Em determinado momento percebi que as senhorinhas começaram a voltar, rumar em direção ao calçadão. Vieram, e se sentaram no mesmo banco que eu. Cedi espaço para que elas ficassem a vontade para vestir os sapatos, dei um sorriso e elas sentaram de frente pra rua. Quando de repente escuto um dialogo, nada reprimido, com as seguintes falas:
— Menina você não vai acreditar. Mas não é que o fulano resolveu comparecer? Pois é, queria porque queria a noite inteira. Fizemos como há tempo não faziamos. E eu gostei né...
— Ai, menina, lá em casa tá tudo na mesma. De vez em quando depois do jornal até acontece alguma coisa.
Eu fiquei perdido. Envergonhado até. SERÁ QUE EU TINHA USADO TÃO BEM O COTONETE CAPAZ DE DESENVOLVER UMA AUDIÇÃO SUPERSÔNICA? ELAS REALMENTE ESTAVAM DIZENDO AQUILO, DO MEU LADO, EM ALTO E BOM SOM?
Olhei para baixo num estilo avestruz mirando a havainas que estavam no meu pé. Então, de repente, um lapso passou pelos meus neurônios e acabei percebendo o que se passava: de havaianas, jeans e um blusa escrito BRASIL em letras garrafais, EU ERA O TÍPICO GRINGO PASSEANDO PELO RIO.
Antes de ter a crise de riso, levantei rapidamente, olhei para elas, dei outro sorriso e disse: — Bye!
Caminhei até o prédio e, eu juro!, naquele dia, o porteiro pensou que eu tinha encontrado com o Bozo.