Rádio

sexta-feira, 27 de março de 2009

Um pouco de racionalidade só faz bem

O que me impressiona nesse país é a falta de lógica.

Assisti uma palestra ano passado do Carlos Alberto Sardenberg, jornalista de assuntos economicos, e uma das discussoes pautadas girou em torno da legislação notionless do país. Ele contava sobre um episódio acontecido em uma cidade do interior de Minas Gerais que deixou de receber uma das maiores fábricas da AmBev (e junto com ela milhares de empregos e receita para a cidade) por causa de algumas centenas de pés de pequi, que de acordo com a lei não pode ser destamatado em qualquer que seja a circunstância. Os administradores interessados na cidade mais o prefeito interessado nos empregos uniram-se e elaboraram uma proposta para que houvesse uma brecha lógica no caso: a AmBev garantiu a replantação dos 400 pés de pequi em dobro, ou seja, 800 pés, e até mais, para arredondar combinaram 1000 pés. Mas para não deixar dúvida do compromisso da empresa e da cidade com o meio ambiente adicionaram um zero a mais depois dos outros e confirmaram a replantação de 10.000 pés. Não adiantou, a legislação era irredutivel, alguns pés de pequi custaram milhares de empregos e geração de renda para uma cidade de pequeno porte inteira.

Embora eu não tenha estado em Minas Gerais para acompanhar o caso, nem tampouco cheguei perto de um pé de pequi, hoje me aconteceu uma situação de falta de lógica semelhante.
Tenho almoçado quase todos os dias no restaurante universitário da faculdade. O cardapio segue duas linhas: a linha tradicional e uma de dieta balanceada e diet/light. Embora sejam duas linhas distintas, você pode intercambiar os acompanhamentos entre elas. Mas é uma via de mão única. E aqui que reside o problema da falta de racionalidade. Se você quiser combinar a carne da linha tradicional com as cenouras cozidas e o arroz fluorescente da linha diet/light, fique a vontade e sirva-se. Mas se você quiser pegar o arroz e o feijão da linha tradicional e só o frango grelhado da linha natureba, você não pode. Para pegar o frango grelhado você até pode já ter pego arroz e feijão, mas tem que pegar também o arroz integral e a carne de soja.
Se você é como eu e não gosta de arroz integral e nem carne de soja, você provavelmente faria o obvio, pegaria o arroz integral, a carne de soja, o arroz e o feijao normal, e só comeria aquilo que quer, deixando para ir para o lixo aquilo que você não comeu.

MAS eu sou um universitário que mora longe de casa. Para aqueles que veem a geladeira vazia, jogar comida fora é crime.

Fui falar com a supervisora do local e expliquei o meu raciocínio. Ela meio que gaguejou, pediu um minuto e disse que ia conversar com a nutricionista-gerente. FOI... VOLTOU. Trouxe a seguinte explicação: “você tem que pegar todos os itens porque eles são contados como porção. Se pegar só um, vai sobrar do outro, já é tudo incluído nas contas de quantidade por pessoa e bla bla blá”. BOA RAZÃO. Não fosse pelo fato de que de qualquer forma vai pro lixo o que sobrar. Ou vai do prato de quem não come. Ou vai do restaurante que não pode, nem ao menos, dar o que sobra da comida para quem passa fome, e essa é uma outra lei discutível.

De qualquer forma, o que falta nesse país é racionalidade para criar sistemas inteligentes. Sejam leis ou cardápios. Seja na hora de se perguntar quantas pessoas valem um pé de pequi. Ou na hora de contar quantas toneladas de lixo vale um estomago vazio.

2 comentários:

  1. É verdade! Desperdício de comida é um absurdo!
    Acho que na maioria das vezes faltam é pessoas inteligentes ou nem isso, pessoas com boa vontade de montar esquemas melhores mesmo...

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